O Geovani e a sua formação

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Sou natural de Bataiporã-MS. Atualmente moro em Porto Alegre-RS. Sou casado com a Cristiane e pai da Sofia e do Joaquim. Declaro-me apaixonado pela vida! Sinto que a vida é um mistério e consegue vivê-la bem quem está apaixonado por ela. Tenho Curso Superior de Filosofia, Graduação (pela ESTEF e EST), Mestrado em Teologia Sistemática (PUCRS) e, atualmente, estou me especializando em Gestão da Educação, também pela PUCRS. Na ESTEF, atuei na como professor de Cristologia, Assessor e Coordenador dos Cursos de Extensão. No momento atuo como Supervisor de Pastoral das Unidades Sociais da Rede Marista. Gosto de ler, dialogar, escrever e postar sobre diversos assuntos e temas que a vida nos suscita.

quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

III – É POSSÍVEL AINDA PREGAR A RESSURREIÇÃO?

O mundo é profundamente marcado por sinais de violência. Sinais de paixão (sofrimento) e morte sempre estiveram presentes na vida humana. O próprio Jesus de Nazaré experimentou, quando assumiu a nossa condição humana (sarx) esse nosso lado frágil. Ele nasceu, cresceu e viveu numa época de regime opressor. Seu povo vivia numa total dependência sócio-econômica-religiosa. É por isso que aqui falamos de paixão não apenas como madeiro. Mas como toda realidade de sofrimento e morte que atingiu Jesus e que atinge também a todos nós.

Também vivemos a experiência de Jesus de paixão e morte. Notamos que o sofrimento não nos atinge apenas individualmente mas também a nível ecológico, e porque não dizer cósmico. Assim nos damos conta de casos de dores e mortes absurdas e sem-sentido; que atingem principalmente inocentes. É aí que percebemos que o pior sofrimento e morte não são aqueles causados apenas pela degeneração biológica, comum ao ser humano. Mas, a violência do ser humano contra o seu próprio semelhante.

Diante desses sofrimentos, dessas lutas de cristãos e não cristãos a favor da vida, que aparentemente são em vãs, perguntamos: é possível encontrarmos sinais de ressurreição? Como cristão dizemos que sim. E dizemos isso porque acreditamos que conosco caminha o Ressuscitado em várias realidades.

Na realidade cósmica Cristo Ressuscitado – por não está limitado à realidade espácio-temporal – está em comunhão com todo o cosmos. Por sua glorificação e transfiguração Ele não abandonou o mundo e seu corpo, mas o assumiu de forma mais profunda e plena.

Na realidade humana o Ressuscitado está de forma especial. Já em Mt 28. 20b vemos a seguinte expressão de Jesus que confirma sua contínua presença em nosso meio: “E eis que estarei convosco todos os dias, até a consumação dos séculos!”. Mas e aqueles que viveram antes do evento da ressurreição de Jesus? Segundo Leonardo Boff, os homens e mulheres que viveram antes de Cristo estavam apenas pela cronologia longe de Jesus. Pois, ninguém está fora do seu gesto redentor. A presença do Ressuscitado está em todos. Pois como imagem e semelhança de Deus (Trindade- O Filho) cada ser humano faz lembrar o humano que foi Jesus. Sendo assim, rejeitar uma pessoa, principalmente o pobre e excluído, é rejeitar o Ressuscitado. É levá-lo hoje à experiência da paixão e morte. “O ser humano é a maior aparição, não só de Deus, mas também do Cristo ressuscitado no meio do mundo”, afirma Leonardo Boff. Todos aqueles, sejam eles cristãos latentes ou patentes, que buscam o amor, a vivência da justiça, da solidariedade, da comunhão, manifestam já agora a presença do Cristo Ressuscitado.

Na Igreja também está o Ressuscitado. É ela a comunidade de fé, que testemunham a presença de Cristo no mundo. Mesmo sendo pecadora (porque é constituída de homens e mulheres) ela é o meio, através do qual Cristo nos atinge. É por isso que, sem a Igreja (para os cristãos) Cristo é impensável. Ela é o prolongamento da mensagem do Ressuscitado. A função da Igreja é de substituto do Reino e deve estar sempre aberta às diversidades culturais e situacionais. Como Espírito, o Ressuscitado ultrapassa as confissões religiosas e o antropocentrismo egoísta.

Então como queremos pregar a ressurreição?

Como vimos até aqui é difícil pregar a ressurreição desvinculada da paixão e morte. Pois a vida de Jesus, sua paixão, morte e ressurreição constituem uma unidade de um mesmo mistério. Assim como Jesus é bom anunciarmos a boa nova de vida plena buscando evitar a produção de mais cruzes, para nós e para os outros. Pois sabemos que o tema da cruz já se prestou muito para justificação de cunho ideológico. Porém, se tivermos que assumir a cruz em favor de mais vida, e não pelo sofrimento em si ( coisa que nem sádico o faz), como cristãos somos desafiados a assumir. Pois o ressuscitado nos mostrou que, doar a vida em favor dos outros, não é perdê-la, mas ganhá-la de forma mais profunda.

É por isso que queremos anunciar a ressurreição não como algo distante. Como um acontecimento que se dará apenas após a morte. Assim como a nossa morte, também acreditamos que a nossa ressurreição já começou. Ela é um processo que se revelou primeiramente em Jesus e se prolongará até conquistar toda a criação. Como cristãos, pela nossa fé, cremos que há vida para além desta vida.

Autor: Francisco Geovani Leite

quarta-feira, 2 de novembro de 2011

II - A ressurreição do ser humano

Neste dia em que social e religiosamente lembramos os mortos tratamos do tema da ressurreição do ser humano. E perguntamos: Que sentido/significado tem para o ser humano a nossa ressurreição? Iniciamos este tema aprofundando brevemente algumas concepções de ser humano e morte que foram sendo formuladas ao longo do tempo.

Para a antropologia bíblica o ser humano é uma unidade todo ele inteira. O ser humano é corpo e alma. Para a antropologia moderna, marcada por um lado pela cultura materialista (que se fundamentou mais no corpo) e por outro a cultura espiritualista (baseada mais no espírito), destacam a compreensão do ser humano como unidade. Atualmente a antropologia contemporânea, ainda que apresente vestígios da concepção moderna, compreende o ser humano como uma unidade complexa corpo-alma. Estas concepções têm grande importância para compreendermos o tema da morte. Já que, como diz Leonardo Boff, “o sentido que damos à morte é o sentido que damos a vida. E o sentido que damos à vida é o sentido que damos a morte”. Isso nos faz afirmar que a morte é uma experiência cultural. Ou seja, o sentido dela varia tanto quanto o número de culturas. Enquanto para nós ocidentais a vida é tudo, levando-nos muitas vezes a ocultar e até negar a morte, para os antigos gregos o sentido autêntico da vida está no além morte (Sócrates): “morremos para viver mais e melhor”.

Segundo a concepção de Boff, a antropologia teológica compreende a morte como condição humana, nascimento (passagem), cisão e decisão.

Enquanto condição humana a morte está instalada dentro de cada ser. Morremos a cada instante. Essa é nossa condição biológica. Como nascimento (passagem) o ser humano - como no ventre materno - passa por uma violenta crise e é ejetado para o mundo (uma realidade até então desconhecida). Na morte acredita-se que aconteça o mesmo. Pois não sabemos o que nos espera do outro lado. Passamos por semelhante crise, enfraquecemos, agonizamos e somos “retirados” deste mundo para irromper num mundo muito mais vasto que aquele deixado pelo ser humano, através da morte. A morte também é cisão (corte). Isso acontece quando amas as curas do ser humano (biológica e pessoal) se cruzam, revelando o pleno desenvolvimento da interioridade e exigindo a morte da exterioridade. Além de passagem (nascimento) e cisão a morte é também de-cisão. Ou seja, no momento da morte dar-se aí a livre decisão do ser humano. É o momento do desfecho, que em vida realizou, para a total abertura ou para o total fechamento.

Para o cristão a morte não possui a última palavra sobre o ser humano. Na epístola aos coríntios, Paulo afirma que, assim como Cristo ressuscitou, também nós haveremos de ressuscitar (cf. 1Cor 15, 20-22). Aquilo que se realizou com Jesus, também há de acontecer com o ser humano. À pergunta: o que será do ser humano após a morte? A fé cristã responde com alegria: ressurreição como total transfiguração da realidade humana espírito corporal.

Porém surgem-nos algumas questões: quando ressuscitaremos? Com que corpo ressuscitaremos? Como é uma vida ressuscitada? Perguntas desse tipo já estavam presentes no pensamento dos primeiros cristãos, e foram tidas por Paulo como insensatas (Cf. 1 Cor. 15. 36). Pois tais questões ultrapassam nossas possibilidades de representação. Porém, diz Leonardo Boff, “nem por isso dispensamos de balbuciar alguma representação a respeito dessas questões”.

Então, quando ressuscitaremos? Há divergências entre os teólogos quando o momento da ressurreição do ser humano. Alguns defendem – como Boff – a ressurreição no momento da morte. Outros – Como Urbano Zilles – defendendo uma postura tradicional da Igreja, afirmam que há um período intermediário (ou, estado intermediário) em que a alma aguarda a ressurreição.

Para Leonardo Boff, afirmar que há, após a morte, uma “espera”, é uma forma inadequada de representação. Já que é, no momento da morte, que o ser humano chega ao momento decisivo de sua plenificação. Porém, Leonardo lembra que o ser humano é também nó-de-relaçao-com-o-universo. A nossa ressurreição – assim como a de Jesus na morte, não é totalmente plena: só o ser humano no seu núcleo pessoal participa da glorificação. É por isso que a nossa ressurreição só se tornará plena quando toda a criação também for glorificada. O ser humano ressuscitará definitivamente somente na consumação do mundo.

Mas, com que corpo ressuscita o ser humano? Há de se entender de que corpo estamos falando. O corpo que aqui falamos, que ressuscita na morte, é aquele que o apóstolo Paulo chama de corpo espiritual. Na Bíblia, corpo designa o ser humano todo inteiro em seu relacionamento com o outro (grego: soma; hebraico: basar). É por isso que aqui afirmamos que não há ressurreição sem corpo: o corpo de ressurreição possuirá a mesma identidade pessoal e material com aquele que éramos na existência espácio-temporal. Não podemos confundir identidade corporal com identidade material (ou seja, da matéria do corpo). Na morte, quem ressuscita é o nosso eu pessoal. Explicitando melhor, aquilo que criamos em interioridade, dentro da vida terrestre, eu esse que sempre inclui também relação com o mundo e por isso corpo.

E como seria uma vida ressuscitada? Diferente de reencarnação, uma vida ressuscitada é diferente desta que temos. É por isso que dizemos que uma vida ressuscitada é verdadeiramente humana (o ser humano como um todo é introduzido na vida transfigurada); é vida nova (não é outra vida como esta, mas nova, revestida de incorrupção e imortalidade); e também vida plena (ou seja, que não está mais presa ao limites de nossa realidade; e porque todos os dinamismos latentes se expressam e ativam).

Texto: Francisco Geovani Leite
Imagem extraída do google imagens

No próximo texto falaremos sobre o tema: é possível pregar hoje a ressurreição?

terça-feira, 25 de outubro de 2011

I - A ressurreição de Jesus

O que será do futuro da humanidade? Impulsionados por esta questão elaboramos esta primeira parte. Damos-nos conta de que com o atual desenvolvimento científico e tecnológico (principalmente na área da genética) o ser humano se abre, cada vez mais, a grandes possibilidades. Por isso, o pensamento científico não fica aguardando do céu o surgir de uma nova humanidade. Mas tenta criá-la com os meios que as ciências e a manipulação biológica lhes oferecem. Já a experiência cristã acredita que a nova humanidade (o homem novo) já emergiu. Chama-se Jesus de Nazaré, o Cristo Ressuscitado.

Com isso queremos dizer que por mais que, os cristãos, admirem e aplaudem os bons e humanizadores resultados alcançados pelas ciências, jamais confundirão isso com aquilo que Deus os prometeu com a ressurreição de Jesus.

Mas, como surgiu a fé cristã na ressurreição? Partindo da reflexão da atual exegese afirma-se que a fé na ressurreição funda-se no testemunho dos apóstolos que atestaram dois fatos: o sepulcro vazio e as aparições. O caso do sepulcro vazio é o mais confuso. Os relatos bíblicos sobre eles permitem várias interpretações. Entre elas o rapto do corpo de Jesus descrito em Mateus 28.13. Por isso, afirmamos que o sepulcro vazio, em si, não é sinal atestador da fé na ressurreição. Como tal – diz Leonardo Boff – o sepulcro vazio é um sinal que faz a todos pensar e levar a refletir na possibilidade de ressurreição. É um convite à fé. Não é ainda a fé. O fundamento da fé na ressurreição foram as aparições de Jesus. Pois só elas tiraram as ambigüidades do sepulcro vazio.

Porém, é bom sabermos que a pregação primitiva sobre a ressurreição não se baseia nos relatos evangélicos do sepulcro vazio e das aparições. A primeira e mais antiga interpretação viu nesses fenômenos não a ressurreição da carne como professamos hoje, mas a elevação e glorificação do justo sofredor. Posteriormente sim, por motivos querigmáticos, é que o sepulcro vazio e as aparições foram interpretados como ressurreição.

No início a comunidade primitiva ficou abalada com a morte de Jesus. O que restituiu a fé dessa comunidade foi o evento inaudito da ressurreição confirmada pelas aparições. A partir dela é que surgiu a pergunta: Quem é Jesus de Nazaré? Por sua ressurreição Jesus não se tornou apenas admirável, mas, sobretudo adorável e proclamado Filho de Deus, o próprio Deus como até hoje professa a fé cristã.

Para o cristão a ressurreição de Jesus é também a grande resposta da realização utópica do ser humano de superar a morte. Com a ressurreição de Jesus, o cristão vê, pela fé, a passagem de plenificação da utopia (que não existe em nenhum lugar) humana para a topia (que existe em algum lugar).

Francisco Geovani Leite
Imagem: Google imagens
No próximo texto - dando continuidade ao tema proposto - trataremos do tema da ressurreição do ser humano. Aguardem!

domingo, 16 de outubro de 2011

Ressurreição: Vida para além desta vida

Estudo sobre o significado da ressurreição de Cristo e a nossa a partir da interpretação de Leonardo Boff

INTRODUÇÃO

O ser humano busca realizar-se em todas as dimensões. É por isso que sempre buscamos dar sentido a nossa existência. Principalmente diante das realidades que nos fazem sofrer. E quem de nós não é conhecedor de algum cenário social que nos apresenta uma sociedade violenta? Experimentamos comumente sinais de morte. E para o ser humano – privilegiado por ter consciência disso - a morte constitui sempre um drama uma angústia.

Diante disso abrem-se questionamentos: que resposta possui a experiência cristã para essas realidades humana, sobretudo de sofrimento e morte? Qual o fundamento cristão da fé na ressurreição? Nos dias de hoje, ainda é possível pregar a ressurreição?

Perguntas como estas se desdobram e sem sombra de dúvidas nos motivam a aprofundar esse tema. O que aqui apresentaremos é - como diz Leonardo Boff - um balbuciar, ou seja, um falar limitado, sobre o significado da ressurreição de Cristo e a nossa.

Para compreendermos o tema em questão organizamos esse nosso “balbuciar” em mais três partes: na primeira tratamos da ressurreição de Cristo; na segunda parte, tendo como base a primeira, aprofundamos sobre o tema da nossa ressurreição e, por fim, na terceira parte, apontamos alguns elementos que podem ajudar os cristãos a pregar hoje a fé na ressurreição.

Nota: Nos próximos dias estarei publicando neste blog as três partes comentadas neste artigo. O conteúdo é uma síntese do meu trabalho monográfico do Bacharelado em Teologia. Este texto, escrito de forma mais sistemática, já está publicado nos Cadernos da ESTEF - Escola Superior de Teologia e Espiritualidade Franciscana de Porto Alegre, RS.
 
Autor: Francisco Geovani Leite
A imagem foi tirada do google imagens.

sexta-feira, 2 de setembro de 2011

O Crucificado: pode Deus sofrer e morrer?

Pode Deus sofrer e morrer? Segundo Moltmann, a discussão em torno da existência de Deus faz muitos cristãos e teólogos ficarem desorientados diante de questionamentos como “Deus está morto” e “Deus não pode morrer”. Entretanto, desse conflito, abre-se uma esperança de surgir uma teologia conseqüentemente cristã que nos faça perguntar qual o Deus que motiva a nossa fé e quem é Jesus Cristo para nós hoje (Cf. Dios crucificado, p 275-276). Como acreditar, diante do sofrimento, na existência de um Deus onipotente, todo poderoso e sumamente bom? (Cf. artigo. O Deus Crucificado, p. 725).

Em busca de uma resposta as convergentes correntes teológicas, tanto a linha católica quanto evangélica, buscam, através da sofrida morte de Cristo na cruz, compreender a essência de Deus. O Crucificado é, para a fé cristã, a norma e o fundamento de sua teologia. Nesse sentido, para se falar de Deus com uma justificação cristã faz-se importante atualizar o grito de Cristo que em sua morte se vê abandonado por Deus. A morte de cristo, abandonado por Deus, é para o cristão o fim de toda teologia ou o começo de uma teologia especificamente cristã. Sejam quais forem todas as afirmações teológicas (teologia da criação até escatologia, desde doutrina da trindade até a doutrina do pecado) fazem referência ao Crucificado. Enquanto teologia a teologia da cruz não somente fala sobre os significados da cruz de cristo, mas ela mesma se converte em teologia crucificada ( Cf. El futuro da creación, p. 81-83).

Para Moltmann, as novas correntes do pensamento teológico que tentarem compreender a essência de Deus na morte de Jesus tentaram abordar a cruz e ressurreição de Jesus no horizonte da soteriologia. Para ele, não que esteja errado, mas não é suficiente. Para ele há de se perguntar qual o significado da cruz de Cristo para o próprio Deus. Assim, Moltmann lança questionamentos: Como pode ser a morte de Jesus um predicado divino? Isso não significa uma revolução no conceito de Deus? (Cf. El Dios crucificado, p 277-278).

Dos teólogos citados por Moltmann, citamos o trabalho de dois grandes teólogos, um católico e outro protestante, que buscaram compreender a morte de Jesus como morte de Deus. O primeiro citado é teólogo católico Karl Rahner que já em 1960 entendeu a morte de Jesus como a morte de Deus. Segundo Moltmann, Rahner pretende pensar a morte Jesus não apenas em seu efeito salvífico, mas em si mesma (Cf. El futuro da creación, p. 85). “Posto que não se deva aceitar que a morte não toque a Deus, precisamente esta morte nos revela a Deus”. (Cf. El Dios crucificado, p. 278-279) . Da parte protestante Karl Barth propõe em sua doutrina da predestinação e da reconciliação uma teologia da cruz. A divindade de Jesus é revelada na humilhação até a morte da cruz, enquanto sua humanidade é revelada de forma clara em sua exaltação. Ao unir doutrina das duas naturezas com a doutrina do protestantismo antigo sobre “humilhação e exaltação”, Barth conduz uma nova compreensão “histórica” do ser de Deus, onde mostra na história da humilhação do Filho de Deus e da exaltação do Filho do homem, o ser de Deus. Entretanto, Barth faz essas afirmações no contexto soteriológico (Cf. El futuro da creación, p. 86-87). Para o teólogo da esperança o limite de Barth está em pensar demasiadamente teo-logicamente e não com suficiente decisão trinitária. Ao falar da presença de Deus mesmo na cruz de Cristo ressalta que Deus (estava) em Cristo, empregando assim um simples conceito de Deus, sem desenvolvê-lo sob o aspecto trinitário (Cf. El Dios crucificado, p 281).

Texto de: Francisco Geovani Leite
Imagem extraída do Google Imagens
Para um maior aprofundamento do tema sugerimos o estudo do segundo capítulo da obra: Da Apatia à Compaixão: O sofrimento de Deus no sofrimento de Cristo e da Criação a partir de Jurgen Moltmann.

sábado, 27 de agosto de 2011

Da Apatia à Compaixão. O sofrimento de Deus no sofrimento de Cristo e da Criação a partir de Jurgen Moltmann

Conheça a obra: Da Apatia à Compaixão. O sofrimento de Deus no sofrimento de Cristo e da Criação a partir de Jurgen Moltmann. Porto Alegre: ESTEF, 2009. 

Autor: LEITE, Francisco Geovani
Valor: 10,00 + frete

 O sofrimento faz parte da vida contingente da criação. Diante dele torna-se inevitável a questão: Onde está Deus quando sofremos? A fé cristã tem sua razão de ser em Cristo, o Crucificado-ressuscitado. Na paixão, o Filho de Deus, historicamente sofre a morte no abandono do Pai.
É sobre o sentido teológico do sofrimento e da morte que Francisco Geovani Leite, leigo e Mestre em Teologia pela PUC-RS, escreve suas reflexões a partir da obra do renomado teólogo alemão Jurgen Moltmann. Junto com o tom pessoal do autor, o livro é, certamente, uma interessante introdução ao pensamento de um dos grandes teólogos da atualidade.  (Texto extraído do site da ESTEF - Escola Superior de Teologia e Espiritualidade Franciscana)





terça-feira, 9 de agosto de 2011

O veneno está na mesa

              O Brasil, desde 2008, é o país que mais consome agrotóxicos no planeta.
            Acesse o site abaixo e assista o vídeo que denuncia este crescente mal da nossa agricultura nacional:


Imagem: Extraída do Google imagens. 

domingo, 26 de junho de 2011

Educação e Transcendência

Para Marlon L. Schock, “a percepção sensitiva não exclui a apreensão cognitiva”. É a partir da abordagem antropológica que a transcendência e o sagrado podem ter relação com a educação. A partir desta compreensão, Schock – que acredita que é possível educar para a transcendência – destaca quatro eventos que impulsionam o ser humano a transcender, a saber: “o desejo e a vocação para ser mais; a criticidade e a conscientização; a utopia crítica e esperançosa; o relacionamento e a afetividade”.

Ao tratar de educar o desejo e a vocação para o ser mais, Marlon - baseando-se no pensamento do pedagogo Paulo Freire - lembra que o ser humano, ao desejar o infinito, o ilimitado, tem consciência de sua incompletude. E é justamente nesta incompletude humana que encontramos o núcleo fundamental da educação humana. É tendo consciência de que é um ser inacabado que o ser humano busca o conhecimento. Sentindo-se incompleto o ser humano também busca a sua plenitude. Este desejo de transcender (conhecer mais) é o que leva o ser humano ao processo da educação. Pois, para Freire, o que faz com que o ser humano permaneça sempre em processo de busca é a consciência humana de que somos seres inacabados. Ser mais faz parte da vocação humana e é o que faz nascer em nós a capacidade de nos compreendermos.

O ser humano também é dotado de natureza crítica, e quando suas questões deixam de ser respondidas gera-se a inquietude humana. E é a inquietude humana que o faz transcender para alguma direção. Criticidade e esperança caminham juntas. Uma não é maior do que a outra. Com base no pensamento de Freire pode-se dizer que, frente às dificuldades da vida, uma das principais funções da educação é dar condições de promover a consciência para transcender qualquer tipo de realidade desumanizante. E é compromisso da educação conscientizar-nos da capacidade de transcender essa realidade, reinventado o mundo sem necessariamente repeti-lo ou reproduzi-lo. Tornamos-nos educáveis porque compreendemos que é possível lutar para transformar a realidade injusta.

Para Freire, aprender é uma paixão fundamental para o ser humano. E o desejo é o elemento básico do sujeito que aprende. Nesta perspectiva vale destacar que há uma íntima relação entre desejo, prazer e aprendizagem. A vocação humana para ser mais se estabelece justamente nas tensões existentes nessa dinâmica dialética da incompletude e do desejo humano.

Para a nossa sociedade pós-moderna a esperança é algo indispensável à existência. Já para Paulo Freire a esperança é algo ativo e fundamental para o ser humano, que é maior do que a realidade e as circunstâncias que lhes são impostas. A matriz da esperança é a consciência do ser humano de saber-se inacabado. Nesta perspectiva a educação é para Freire um permanente processo de busca que tem como fundamento a esperança.

Freire acredita que para a educação humana não basta apenas a formação técnica e científica. É preciso também o sonho, a utopia. Pois, a esperança é vital para a existência humana. Sem esperança, não vamos a lugar algum. Mesmo diante das dificuldades da vida, manter a esperança é condição necessária para a hominização. Todavia, esperança na libertação ainda não é libertação, é preciso lutar pela libertação. O discurso neoliberal que recusava a utopia, os sonhos, foi denunciado por Freire. Para ele, a tarefa do educador é desvelar as possibilidades para a esperança, o sentido maior de lutarmos.

A educação precisa tratar de uma esperança crítica que impulsione o ser humano a superar a realidade que vive. Nesse sentido perceberemos a educação como algo dinâmico e criativo. A educação precisa ser sempre repensada e reinventada. Ela deve pensar a formação do ser humano de forma integral, ou seja, precisa atingir o ser humano em várias dimensões. Dessa forma a educação nos ajudará a vislumbrar o sentido das coisas dentro de um projeto de vida. Assim a esperança colabora para que a educação dê sentido à vida.

Educação também tem a ver com relacionamento e afetividade. Freire, por seu exemplo de vida, foi um ser humano de profundas relações. Para ele o amor é a forte base que liga e mantém unido os vínculos afetivos. Assim como a utopia é indispensável à vida humana igualmente o é o amor. Não há educação sem amor. Um amor capaz de amar os seres inacabados, com todas as pessoas que socialmente estão desprovidas de cuidados e atenção.

Dotado de conhecimento de textos da Palavra de Deus, Freire nos recorda a importância do amor altruísta. Um amor que deixa de lado todo o medo de amar. Um amor que possibilita a transcendência humana. Pois, sem amor não há transcendência nem profunda educação. A transcendência, assim como o processo de educar, se dá no encontro do outro.

Contemplar na educação apenas o conhecimento cognitivo do aluno deixa grandes lacunas ao longo da vida adulta. É importante lembrar que a educação é lugar para o convívio e o amadurecimento afetivo. A afetividade (manifestada no carinho, toque...) rompe barreiras. Por isso, é função do educador criar um ambiente favorável onde o educando possa manifestar e expressar suas emoções.

Francisco Geovani Leite
A imagem acima foi extraída do site: Google Imagens.

Frase de Oswaldo Montenegro:

"Me apaixonei por um olhar, por um gesto de ternura"