O Geovani e a sua formação

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Porto Alegre, RS, Brazil
Sou natural de Bataiporã-MS. Atualmente moro em Porto Alegre-RS. Sou casado com a Cristiane e pai da Sofia e do Joaquim. Declaro-me apaixonado pela vida! Sinto que a vida é um mistério e consegue vivê-la bem quem está apaixonado por ela. Tenho Curso Superior de Filosofia, Graduação (pela ESTEF e EST), Mestrado em Teologia Sistemática (PUCRS) e, atualmente, estou me especializando em Gestão da Educação, também pela PUCRS. Na ESTEF, atuei na como professor de Cristologia, Assessor e Coordenador dos Cursos de Extensão. No momento atuo como Supervisor de Pastoral das Unidades Sociais da Rede Marista. Gosto de ler, dialogar, escrever e postar sobre diversos assuntos e temas que a vida nos suscita.

quarta-feira, 2 de novembro de 2011

II - A ressurreição do ser humano

Neste dia em que social e religiosamente lembramos os mortos tratamos do tema da ressurreição do ser humano. E perguntamos: Que sentido/significado tem para o ser humano a nossa ressurreição? Iniciamos este tema aprofundando brevemente algumas concepções de ser humano e morte que foram sendo formuladas ao longo do tempo.

Para a antropologia bíblica o ser humano é uma unidade todo ele inteira. O ser humano é corpo e alma. Para a antropologia moderna, marcada por um lado pela cultura materialista (que se fundamentou mais no corpo) e por outro a cultura espiritualista (baseada mais no espírito), destacam a compreensão do ser humano como unidade. Atualmente a antropologia contemporânea, ainda que apresente vestígios da concepção moderna, compreende o ser humano como uma unidade complexa corpo-alma. Estas concepções têm grande importância para compreendermos o tema da morte. Já que, como diz Leonardo Boff, “o sentido que damos à morte é o sentido que damos a vida. E o sentido que damos à vida é o sentido que damos a morte”. Isso nos faz afirmar que a morte é uma experiência cultural. Ou seja, o sentido dela varia tanto quanto o número de culturas. Enquanto para nós ocidentais a vida é tudo, levando-nos muitas vezes a ocultar e até negar a morte, para os antigos gregos o sentido autêntico da vida está no além morte (Sócrates): “morremos para viver mais e melhor”.

Segundo a concepção de Boff, a antropologia teológica compreende a morte como condição humana, nascimento (passagem), cisão e decisão.

Enquanto condição humana a morte está instalada dentro de cada ser. Morremos a cada instante. Essa é nossa condição biológica. Como nascimento (passagem) o ser humano - como no ventre materno - passa por uma violenta crise e é ejetado para o mundo (uma realidade até então desconhecida). Na morte acredita-se que aconteça o mesmo. Pois não sabemos o que nos espera do outro lado. Passamos por semelhante crise, enfraquecemos, agonizamos e somos “retirados” deste mundo para irromper num mundo muito mais vasto que aquele deixado pelo ser humano, através da morte. A morte também é cisão (corte). Isso acontece quando amas as curas do ser humano (biológica e pessoal) se cruzam, revelando o pleno desenvolvimento da interioridade e exigindo a morte da exterioridade. Além de passagem (nascimento) e cisão a morte é também de-cisão. Ou seja, no momento da morte dar-se aí a livre decisão do ser humano. É o momento do desfecho, que em vida realizou, para a total abertura ou para o total fechamento.

Para o cristão a morte não possui a última palavra sobre o ser humano. Na epístola aos coríntios, Paulo afirma que, assim como Cristo ressuscitou, também nós haveremos de ressuscitar (cf. 1Cor 15, 20-22). Aquilo que se realizou com Jesus, também há de acontecer com o ser humano. À pergunta: o que será do ser humano após a morte? A fé cristã responde com alegria: ressurreição como total transfiguração da realidade humana espírito corporal.

Porém surgem-nos algumas questões: quando ressuscitaremos? Com que corpo ressuscitaremos? Como é uma vida ressuscitada? Perguntas desse tipo já estavam presentes no pensamento dos primeiros cristãos, e foram tidas por Paulo como insensatas (Cf. 1 Cor. 15. 36). Pois tais questões ultrapassam nossas possibilidades de representação. Porém, diz Leonardo Boff, “nem por isso dispensamos de balbuciar alguma representação a respeito dessas questões”.

Então, quando ressuscitaremos? Há divergências entre os teólogos quando o momento da ressurreição do ser humano. Alguns defendem – como Boff – a ressurreição no momento da morte. Outros – Como Urbano Zilles – defendendo uma postura tradicional da Igreja, afirmam que há um período intermediário (ou, estado intermediário) em que a alma aguarda a ressurreição.

Para Leonardo Boff, afirmar que há, após a morte, uma “espera”, é uma forma inadequada de representação. Já que é, no momento da morte, que o ser humano chega ao momento decisivo de sua plenificação. Porém, Leonardo lembra que o ser humano é também nó-de-relaçao-com-o-universo. A nossa ressurreição – assim como a de Jesus na morte, não é totalmente plena: só o ser humano no seu núcleo pessoal participa da glorificação. É por isso que a nossa ressurreição só se tornará plena quando toda a criação também for glorificada. O ser humano ressuscitará definitivamente somente na consumação do mundo.

Mas, com que corpo ressuscita o ser humano? Há de se entender de que corpo estamos falando. O corpo que aqui falamos, que ressuscita na morte, é aquele que o apóstolo Paulo chama de corpo espiritual. Na Bíblia, corpo designa o ser humano todo inteiro em seu relacionamento com o outro (grego: soma; hebraico: basar). É por isso que aqui afirmamos que não há ressurreição sem corpo: o corpo de ressurreição possuirá a mesma identidade pessoal e material com aquele que éramos na existência espácio-temporal. Não podemos confundir identidade corporal com identidade material (ou seja, da matéria do corpo). Na morte, quem ressuscita é o nosso eu pessoal. Explicitando melhor, aquilo que criamos em interioridade, dentro da vida terrestre, eu esse que sempre inclui também relação com o mundo e por isso corpo.

E como seria uma vida ressuscitada? Diferente de reencarnação, uma vida ressuscitada é diferente desta que temos. É por isso que dizemos que uma vida ressuscitada é verdadeiramente humana (o ser humano como um todo é introduzido na vida transfigurada); é vida nova (não é outra vida como esta, mas nova, revestida de incorrupção e imortalidade); e também vida plena (ou seja, que não está mais presa ao limites de nossa realidade; e porque todos os dinamismos latentes se expressam e ativam).

Texto: Francisco Geovani Leite
Imagem extraída do google imagens

No próximo texto falaremos sobre o tema: é possível pregar hoje a ressurreição?

Frase de Oswaldo Montenegro:

"Me apaixonei por um olhar, por um gesto de ternura"