O Geovani e a sua formação

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Sou natural de Bataiporã-MS. Atualmente moro em Porto Alegre-RS. Sou casado com a Cristiane e pai da Sofia e do Joaquim. Declaro-me apaixonado pela vida! Sinto que a vida é um mistério e consegue vivê-la bem quem está apaixonado por ela. Tenho Curso Superior de Filosofia, Graduação (pela ESTEF e EST), Mestrado em Teologia Sistemática (PUCRS) e, atualmente, estou me especializando em Gestão da Educação, também pela PUCRS. Na ESTEF, atuei na como professor de Cristologia, Assessor e Coordenador dos Cursos de Extensão. No momento atuo como Supervisor de Pastoral das Unidades Sociais da Rede Marista. Gosto de ler, dialogar, escrever e postar sobre diversos assuntos e temas que a vida nos suscita.

quinta-feira, 3 de junho de 2010

Nanotecnologias: fascínio e riscos

Dos dias 26 a 29 de maio de 2007 aconteceu, na UNISINOS em São Leopoldo-RS, o Simpósio Internacional em torno das nanotecnologias com o tema: Uma sociedade pós-humana? Possibilidades e limites das nanotecnologias. As palestras foram proferidas por diferentes personalidades da área científica, vindos de diversos estados brasileiros e de outros dois países, EUA e Itália, que estão ligados diretamente com pesquisas sobre o assunto das nanotecnologias. A presença de pessoas interessadas no assunto não foi tão grande. Creio que estiveram presentes mais pessoas de outros estados brasileiros do que propriamente RS.
      Nestes quatro dias de Simpósio foram proferidas nove palestras e dezenove minicursos, com possibilidades de escolha de dois minicursos por participantes. Destas participei de todas as palestras e optei pelos seguintes minicuros: As nanotecnologias o ser humano. Uma reflexão ético-teológica proferida pelo professor Dr. Eduardo Rodrigues da Cruz – PUC-RJ e Os impactos tecnológicos, sociais, ambientais, econômicos e regulatórios das nanotecnologias pelo professor Dr. Paulo Antônio Zawislak – UFRGS. Saliento aqui que esta foi o meu primeiro contato mais afundo em torno do tema das nanotecnologias. Em vista da limitação sobre este tema não colocarei muitos dados técnicos, apenas ficarei restrito, enquanto estudante de teologia, em apresentar simplesmente as impressões que tive sobre este Simpósio.
      Imaginemos um grão de área em um metro de praia. Agora, tente imaginar, um grão de areia em um km de praia. Vamos um pouco mais e tente agora imaginar um grão de areia de 1mm em mil km de extensão. Pois bem! Este grão de areia está para esta praia como um nanômetro está para o metro. Achas que isso é impossível? Apesar de fugir da nossa compreensão sensitiva isso não se trata de ficção científica ou “conversa para boi dormir”. Estamos falando aqui de nanotecnologias. Ou seja, as tecnologias que permitem a construção de materiais a uma escala de 1 nanômetro.
      O conceito de nanotecnologia tornou-se popular nos anos 80 através da obra “Engines of Creation” (Motores da Criação) do Norte Americano Eric Drexler. No mundo Drexler foi o primeiro cientista a doutorar-se em nanotecnologia pelo MIT (Massachusetts Institute of Technology) nos EUA. Por isso, Drexler é tido por muitos como o pai da nanotecnologia. Ele esteve presente conosco no segundo dia do Simpósio e creio ser relevante destacar alguns elementos daquilo que ele apresentou.
      “Homens que criam máquinas e máquinas que criam máquinas. Máquinas capazes de distinguir células doentes das boas de células sadias e de fazer correções com grande precisão. Levando em conta o aspecto econômico, os países que não entrarem na revolução das nanotecnologias ficarão para trás”. Estas foram algumas das frases centrais de Eric Drexler que muito me chamaram a atenção em sua palestra intitulada Os nanosistemas: possibilidades e limites para o planeta e a sociedade. E como pai, obviamente não deu muita ênfase aos perigos que as nanotecnologias podem causar para a humanidade e ao planeta, mas tão somente dos benefícios que elas podem trazer a todos. Drexler fala de tal forma que nos conduz ao fascínio (ter grande atração e deslumbramento) diante das nanotecnologias. Segundo ele as nanotecnologias é uma revolução para todas as áreas da vida humana e trazem muitos benefícios. Neste contexto afirma Drexler em sua entrevista à UNISINOS: “Os benefícios potenciais são enormes, em todas as áreas em que seres humanos possam fazer coisas, ou usar coisas que tenham feito: a perspectiva é melhorar muito produtos com grandes reduções de custos, tanto em termos financeiros quanto em se tratando de impacto ambiental” (Revista IHU On-Line. N. 259. Ano VIII, p. 22.).
      Foi, entre os palestrantes, o economista e presidente do Instituto de Estudos Econômicos e Internacionais, o brasileiro Gilberto Dupas, quem apresentou maiores questionamentos em torno do progresso prometido pelas nanotecnologias. Em sua palestra proferida no primeiro dia do Simpósio salientou que, por atrás de todo anúncio de progresso em nanotecnologia, está o fascínio da lógica do capital. Dupas recordou com clareza que nos últimos 20 anos é drástica a relação do ser humano com a natureza. Segundo ele, hoje são evidente os impactos das tecnologias sobre os seres humanos e a natureza. Estamos diante do paradoxo: a tecnologia que garante a vida pode no-la tirar. Tendo em vista o fator econômico, os riscos sempre ficam para depois. Dupas é claro e enfático na afirmação de que, assim como na revolução da informática e das telecomunicações a partir de 1970, também as nanoctecnologias trarão imensos impactos na nossa sociedade, sobre nós e o meio ambiente.
      No caso específico das nanotecnologias, Dupas afirma que são incríveis as possibilidades e altíssimo também os riscos. Em seu artigo Nanotecnologias: mais um mito do progresso? , apresenta dois casos já constatados de impactos negativos causados pela nanotecnologia que ele chama de mito do progresso. Assim rela que, “pesquisadores do US Environment Protection Agency (EPA) já reportaram nanopartículas encontradas em fígado de animais de laboratório, vazamento para células vivas e o risco de novas bactérias desconhecidas atingirem a cadeia alimentar. E a Sociedade Americana de Química anunciou, em agosto de 2007, que algumas novas formas de carbono (nanotubos) em produção já estão causando sério impacto ambiental com a emissão de substâncias tóxicas e cancerígenas”. (Revista IHU On-Line, n. 259, ano VIII, p. 11.)
      Sem dúvida alguma, as nanotecnologias, como apresentadas nas duas posturas acima, causam fascínio e riscos evidentes. No dia 30 de maio de 2008, às 7:35, ao colocar o termo “nanotecnologias” na busca do Google encontrei, em 0,24 segundos, 102.000 artigos tratando sobre o assunto. Com isso quero dizer que muita coisa já está sendo produzido em torno desta nova tecnologia. Claro que muitos desses artigos são informações nada científicas. Mas torna necessário e urgente nos apropriarmos de informações seguras sobre esse tema que diz respeito diretamente do nosso futuro e para onde caminhamos enquanto humanidade.
      As nanotecnologias, como se percebe através das palavras dos seus empolgantes amantes, prometem milagres. Com o prolongamento da vida humana de forma infinita, através da regeneração de células e do hibridismo (homem-máquina), a vida eterna deixa de ser sonho e se torna realidade. Para quê Deus, se somos capazes de criar homens-maquinas? Homens que criam máquinas e máquinas que criam máquinas. Esta frase não é minha, mas de Drexler, o pai da nanotecnologia. Observe-se que o termo criação é empregado por um cientista que, em nenhum momento de sua palestra, ou em sua entrevista a revista IHU, fala de Deus. Talvez, pior do que falar da não existência de Deus, seja não falar de Deus.
      A gaúcha e doutora em física Solange Binotto Fagan afirma que as nanotecnologias são, por natureza, um estudo transdisciplinar. Nesta ótica acredito que a reflexão teológica não pode ficar alheia aos debates em torno dos avanços e riscos que emergem das pesquisas em nanotecnologias. A meu ver, precisamos estar atentos ao pensamento hegemônico e unilateral dos cientistas. Nos discursos exacerbados em torno dos benefícios é bom sermos críticos para averiguarmos se realmente os benefícios serão tantos e se o serão para todos os seres humanos e para a natureza, como prometem os nanocientistas.
      Não se trata de colocar-se contra as tecnologias; mas é de estarmos cientes de estarmos informados e sermos criteriosos na avaliação dos resultados, pois, normalmente, todo desenvolvimento tecnológico comporta um ônus que recai sobre a população inteira. Pelo que se percebe, no desenvolvimento nanotecnológico , fascínio e riscos caminharão juntos. Como teólogos e teólogas, somos convidados a tomar parte nessas discussões, que já estão presentes no mundo, e saber ponderar o que realmente queremos e o que realmente convém, ou seja necessário para o bem da espécie humana ou de uma determinada população.

Autor: Francisco Geovani Leite          A imagem acima é extradída do Google imagens.

Frase de Oswaldo Montenegro:

"Me apaixonei por um olhar, por um gesto de ternura"